CHÁ DE HORTELÃ
Ao preparar o desjejum, escuto a canção desesperada da minha mãe-pássaro. Entro no jardim com os pés descalços para avistar o minúsculo piar na pitangueira. Meus olhos tentam alcançar algum movimento, mas minha visão falha não é capaz de nada. Encontro um ninho pendendo de um galho morto. Me agacho e começo a chamar por filhos assustados em meio à matéria orgânica, quando vejo dois ovinhos partidos. Sinto tanto pela mãe-pássaro: tínhamos esperança de nos recuperar. Mesmo sem a ver, lhe conto que nossos filhos se quebraram. Ajeito o ninho em um galho vivo e coloco as cascas no centro dos gravetos, para que possamos olhar nosso luto de pé. Saio do jardim sem fazer ruídos. Colho uma folha de hortelã. Limpo os pés. Aqueço a água e bebo meu chá longe do tempo.