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Mostrando postagens de fevereiro, 2022

CHÁ DE HORTELÃ

  Ao preparar o desjejum, escuto a canção desesperada da minha mãe-pássaro. Entro no jardim com os pés descalços para avistar o minúsculo piar na pitangueira.  Meus olhos tentam alcançar algum movimento, mas minha visão falha não é capaz de nada. Encontro um ninho pendendo de um galho morto.  Me agacho e começo a chamar por filhos assustados em meio à matéria orgânica, quando vejo dois ovinhos partidos.  Sinto tanto pela mãe-pássaro: tínhamos esperança de nos recuperar. Mesmo sem a ver, lhe conto que nossos filhos se quebraram. Ajeito o ninho em um galho vivo e coloco as cascas no centro dos gravetos, para que possamos olhar nosso luto de pé. Saio do jardim sem fazer ruídos.  Colho uma folha de hortelã. Limpo os pés. Aqueço a água e bebo meu chá longe do tempo.