O MURO CAIU SOBRE O BEIJINHO

 

O muro caiu sobre o beijinho.

Eu havia plantado na sombra porque sabia que seria delicado. No entanto, cresceu mais do que qualquer outro que eu já conheci. Seu caule, talvez, procurasse o sol. Ou se imaginava como árvore, se avizinhando ao redor.


Soterraram minha flor rosa. A única que se deu.


(como se planta uma flor?

como se mata uma planta?)


A pitangueira ficou.

Uma vez encontrei deus comendo pitanga, mas eu não acredito em deus. Apesar do muro caído, a pitangueira ficou. Eu esperava que ela tivesse ido, não minha flor.

Se não tivesse um ninho de pardais, eu teria de matar. Mas não posso matar pardais, já perdemos nossos filhos uma vez.


(por que arrancam nossos galhos secos de nós?

nossos troncos ocos?

nossa pele que se solta?)


É feio espiar pelo muro caído, o buraco do mundo, túnel de minhoquinhas.


Não posso mais esperar pelo meu beijinho.


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