A MORTE EM SI
Quando a Agatha estava morrendo, eu passei a noite escutando Natalia Lafourcade. Seu último álbum: De Todas Las Flores.
É impossível dormir quando o corpo se torna poesia. Quando as gotas batem nas telhas de casa.
Chovia muito quando cheguei no portão da uti. O tempo de espera para me receberem foi o tempo de sufocar da Agatha. Ela não resistiu. Eu não resisti.
Ouve-se pelos cantos que o luto dura dois meses. O luto de um amor dura o resto da vida.
A percepção da existência se torna distorcida à realidade dos outros quando conhecemos a morte com mais intimidade do que gostaríamos. Eu sinto que, mesmo tentando, não é possível pertencer ao mesmo lugar que o lugar dos outros. Me vejo como um outro me mantendo por perto do que é comum.
A consciência da morte e seu entrelaçamento com a vida. Um olhar atento e cativo ao que se parte física e simbolicamente. Aquilo que é nebuloso a quem perdeu sua sensibilidade.
Agatha levou quatro meses para partir. E eu ainda olho de perto meu pedaço de alma que partiu em conjunto.
Existe um lamento na música mexicana que só existe ali. Um lamento que aconchega o que sobra de si.
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