ESCREVER CASAS


Tem uma… coisa. 

Eu tenho uma coisa.

Descobri, tirando fotos da lua cheia, que gosto de ser fantasma.

E tem essa… coisa.

Achei que o tempo tinha parado porque as nuvens não se mexiam, mas o escape de uma moto me tirou do pensamento.


Estou escrevendo um livro. Outro. Já perdi a conta de quantos livros eu tenho escrito.


Há anos me vejo observando casas. Sempre busco a imagem de uma casa para montar um quebra-cabeça. Até que percebi que escrevo casas em meus livros.

Minha casa antiga é escura, e eu gosto muito da penumbra amarelada que fica independente da hora do dia. 

Minha casa suspira de vez em quando, às vezes chora também. Um dia sonhei que chovia muito, mas nenhuma gota passava pelas janelas abertas.

As janelas da minha casa formam desenhos no chão quando a luz atravessa. Não são janelas modernas, tampouco comuns.

Eu tenho um hábito de me encantar com a casa vazia, sabe. Ela nunca está vazia, na verdade.

Eu gosto que, de casa, dá pra ver a amplitude do céu. Às vezes imagino que o céu que vejo é um céu de mar. Um céu de chuva, de tempestade oceânica. Mas só imagino, porque o céu da minha memória é outro, o mar de hoje é afogado.


Eu tenho essa coisa que é… difícil de explicar.

Quando escrevo um livro, sou completamente casa. Quando deixo de escrever, perco essa coisa.


Não é sempre que escrevo com as mãos. Às vezes, na maioria das vezes, acontece com os olhos.

Escrevo essa coisa que só eu consigo alcançar. É triste.

Escrevo muitas casas. 


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