DIÁRIO


Texto escrito em junho de 2019:


Ontem eu estava lendo os poemas que escrevi na adolescência, e grande parte deles perguntava "quem eu sou" ou diziam "não sei quem sou" e outro "não sei meu nome". Esse último me lembrou de um desenho meu de quando era criança: uma pessoa que não sabia seu nome.


E me perguntei: até que ponto essa não identificação de mim gerou e gera essa angústia que sinto quase o tempo todo?


Por muitos anos (vida inteira) me comportei como era esperado, me vesti como o mais aceitável, queria ser o mais adaptável, mas não o era. Parte dos meus pensamentos também foram afetados. Talvez, todo esse questionamento surja por nunca me ter deixado florescer e isso me faz sentir perdida de mim.


Muitos outros textos meus falam exatamente isso: se sentir aprisionada em si mesma, estar perdida, não se encontrar em lugar algum.


Algumas vezes já me permiti ser completamente eu. Vezes aquelas que colocaram o letreiro ESTRANHA em cima da minha cabeça. Mas ouve momentos em que ninguém estava por perto: momentos na música, na poesia, no desenho e qualquer tipo de arte não restritiva e não vigiada em que eu conseguia me expressar e deixar o meu ser todo transbordar. Contudo, faz muito tempo desde a última vez em que me permiti.


Existe uma pequena Evelyn escondida no fundo, bem no fundo. Não vai ser fácil nem rápido pegar sua mão e puxá-la. Hoje, ainda somos duas, separadas. Talvez essa pequena Evelyn tenha um outro nome. Talvez, e só talvez, nós já tenhamos nos encontrado e conversado em outra circunstância, em outro espaço e tempo. Talvez, eu até saiba seu verdadeiro nome.

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